Esquiva ou “sabotagem”: para onde suas escolhas levam você?

            Deu preguiça de fazer algo? Aquele cansaço, desânimo e vontade de correr para casa? Cuidado, isso pode ser um movimento de esquiva. Este movimento, muitas vezes, nos protege de um desgaste imediato, porém, com o passar do tempo, não nos permite avançar nos objetivos. Todo movimento de avanço implica em mudanças e estas, não necessariamente trazem garantia de acerto ou ganhos imediatos. Toda meta, para ser cumprida, requer determinação e atitude. Muitas pessoas escolhem permanecer em relações ruins, as chamadas popularmente de “relações tóxicas”, ou seja: que prejudicam o bem-estar. Mas, por que será que, mesmo fazendo mal, as relações permanecem? Da mesma forma, muitos reclamam do emprego atual, mas por que será que nele permanecem? Muitos desejam emagrecer, mas o que será que os mantém fora do peso desejado? Precisamos compreender que, para cada indivíduo, há um propósito, que nem sempre é claro e que se diferente do propósito dos demais. Para alguns, o medo de que, ao sair da relação, a situação possa piorar, pode ser um motivo para continuar. Aliado a isso, a falta de experiência de lidar com frustrações – como ouvir e aceitar “não” – pode dificultar que se arrisque o primeiro passo, afinal não há garantias de ganhos imediatos e a “zona de conforto”, que nem sempre é confortável de fato, já é, ao menos, conhecida.

            Porém, mesmo garantindo a suposta manutenção da zona de conforto, não necessariamente estamos garantidos “contra” o sofrimento. E o ruim sim, pode piorar; mas pode melhorar também! Skinner (1969), estudioso do comportamento humano, lembra que não existem verdades eternas e que, por meio da experimentação, é possível explorar outras possibilidades: “…mude e esteja pronto a mudar”, nos ensina.

            Mudar não é fácil, requer tomada de decisão e coragem para suportar as possíveis adversidades, no entanto é a única forma de encontramos diferentes oportunidades. Assim como a doença pode ser necessária para que seja sinalizado um autocuidado maior, também podem ser necessárias tomadas de atitude, muitas vezes difíceis, a fim de que um novo aprendizado seja favorecido, mesmo que imediatamente tragam desconforto. Se situações simples, como a organização do armário de roupas, que está para ser feita “há décadas” e que, a cada vez que você abre, “dando de cara” com aquela bagunça danada, acaba gerando uma cobrança do tipo “final de semana preciso cuidar disso”: cuidado! Estas cobranças podem, aos poucos, mobilizar ainda mais estresse para seu organismo que, sobrecarregado por outras demandas, pode vir a debilitar. Manter o armário na bagunça (afinal de contas, “ele” não conta para ninguém o que guarda lá dentro), pode ser um exemplo prático e até mesmo engraçado de como manter uma zona de conforto pode ser perigosa. O estudo para uma prova, que vai sempre ficando para o final de semana, pode ser outro bom e simples exemplo de situação sabotadora.

            Nem sempre esquivar-se de um investimento de energia imediato pode ser considerado ruim. Muitas vezes, pode ser uma necessidade, sobretudo nos casos de sofrimento por transtornos de base ansiosa, como os do Pânico ou outros, como a Depressão, quando a energia dispendida para mudanças fica comprometida, em função do desgaste orgânico. Nestes casos, é necessária a ajuda profissional (psicológica ou médica), a fim de auxiliar na discriminação dos possíveis fatores e levantar as devidas hipóteses, tanto diagnósticas quanto de intervenção. A busca por auxílio pode ser o primeiro passo a ser dado e, portanto, uma saída imediata da “perigosa” zona de conforto.

            Fique atento: o “tratamento” para o gerenciamento das próprias atitudes não consiste somente em reconhecer as necessidades, mas em colocar as “mãos na massa”, sem pressa: apenas com foco!

Referências Bibliográficas:

Skinner, B.F. (1969). Science and Human Behavior. New York: Free Press (Edição original de 1953).

Tatiana Berta
Psicóloga Clínica
Terapeuta Comportamental e Cognitiva – USP
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