Mindfulness: presente que se recebe do momento presente!

Em tempos agitados, em que somos exigidos ao máximo em nossas habilidades, o mais difícil é parar. Não que não queiramos ou não entendamos que não seja necessário, mas porque simplesmente a maioria de nós não consegue. Acostumados a pensar o tempo todo, na mesma intensidade em que ocorre um turbilhão de demandas, nos vemos sempre “funcionando”, na maior parte do tempo no modo automático.

Até mesmo as crianças estão aprendendo que não podem parar. A rotina, permeada por atividades escolares e extra-curriculares pouco permite que brinquem livremente, muitas vezes podando o exercício da criatividade, que se faz quando a atenção está voltada aos elementos dos quais podemos dispor no aqui e agora. As crianças estão cada vez mais cedo acostumadas a estímulos que exigem multifoco de atenção, como os que provêm dos meios digitais. Até mesmo bebês já treinam o contato com os aparatos tecnológicos, o que pode ser um dificultador do aprendizado da atenção com foco. Paradoxalmente, alguns pais não conseguem compreender queixas de “falta” de atenção nas atividades de sala de aula e, frequentemente, estados mentais de muita atividade são confundidos com transtornos.

Se parar é difícil, para muitos até dormir passa a ser um problema, afinal como descansar o fluxo contínuo de pensamentos que insiste em nos lembrar do que está por vir? Nosso cérebro, com toda a plasticidade, tem o potencial de modificar-se sempre. Sendo assim, da mesma forma que aprendemos a “acelerar”, é possível aprendermos a “diminuir a marcha”, se esta for a necessidade. Nossos neurônios possuem a capacidade de estabelecer conexões entre si quando recebem estímulos advindos do ambiente externo ou do próprio organismo, o que nos permite estar sempre aprendendo. Os programas baseados em Mindfulness (Atenção Plena) são um exemplo de estímulo para o desenvolvimento de um estado de maior atenção e concentração. O termo Mindfulness pode indicar, além do treino, o estado mental ou psicológico em que ocorre a regulação intencional da atenção ao momento presente, oposto ao estado de desatenção. Embora o termo seja ainda pouco conhecido, este indica simplesmente o estado de atenção ao momento presente e as reações que ele produz. Por meio da aceitação às condições naturais da vida desenvolvemos flexibilidade psicológica, que nos permite fazer escolhas, de acordo com nossos propósitos ou necessidades. Portanto, utiliza-se o termo Mindfulness tanto para o estado mental quanto para o conjunto de técnicas que nos permitem desenvolvê-lo. A literatura científica aponta uma série de benefícios para quem pratica Mindfulness que vão desde o melhor manejo com as situações estressantes do cotidiano até a redução de quadros de ansiedade e depressão, por exemplo.

Atualmente, no Brasil, o serviço público de saúde, a exemplo do que acontece há alguns anos no Reino Unido, por exemplo, já oferece à população os programas baseados em Mindfulness. Normalmente, os programas são estruturados de oito a doze semanas, para pacientes com demandas clínicas, especialmente relacionadas ao estresse, o que representa um enorme ganho em termos de promoção de qualidade de vida.

A seguir, um exemplo de instrução básica que muito pode auxiliar a aumentar nossa atenção (Campayo, Demarzo, 2015):

* Ancore sua atenção em um ponto, habitualmente na respiração ou no corpo;

* Ao observar que sua atenção abandonou o ponto de ancoragem, volte a ele com amabilidade. Esse movimento contínuo de nos tornarmos conscientes de que perdermos a atenção e voltarmos ao ponto de ancoragem é o que favorece o desenvolvimento do estado de atenção.

Para muitas pessoas, pode ser difícil começar a praticar sozinho. Recomendam-se as práticas em grupo e com orientação, a fim de favorecer a formação do hábito que permitirá incorporá-las no dia-a-dia. Uma dica é consultar o site  do grupo de extensão da Universidade Federal de São Paulo, Centro Mente Aberta de Mindfulness e Promoção de Saúde, que oferece o serviço gratuitamente à população que utiliza o serviço público de saúde: www.mindfulnessbrasil.com

Tatiana Berta Otero

 Psicóloga Clínica (CRP 06/93349), Terapeuta Cognitivo Comportamental (USP), Mestranda do Depto. de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) – www.tatianabertapsicologa.com.br

Referências:

DEMARZO MMP, CAMPAYO JG. Manual prático de Mindfulness: curiosidade e aceitaçãoSão Paulo, Palas Atena, 2015.