Somatização: como o nosso corpo “responde” ao desgaste?

Tratamento Comportamental e Cognitivo para Somatização

Quantas vezes já ouvimos que “Fulano teve um piripaque” ou que “Ciclano teve uma coisa”? O que será que informalmente algumas pessoas querem dizer com estas palavras, ao se referirem ao estado emocional de alguém que tem um sofrimento para o qual a explicação não parece evidente?

Manifestações de angústia e sofrimento psíquicos hoje são designadas pelos manuais de classificação como transtornos somatoformes, conversivos ou dissociativos. Os sintomas antes classificados como “histéricos” passaram a ser entendidos como “somatização” ou simplesmente como “sintomas médicos inexplicáveis”. Somatização pode ser entendida basicamente como a manifestação de conflitos e angústias psicológicos por meio de sintomas corporais ou ainda como a resposta do organismo a um extremo sofrimento psicológico.

Algumas pessoas tendem a vivenciar e comunicar seu sofrimento de forma somática, ou seja: através de sintomas que não possuem uma evidência patológica, provavelmente como forma de resposta aos agentes estressores da vida cotidiana ou de situações conflitivas da própria história de vida. Muitas vezes, tais manifestações são tão angustiantes, que levam à procura por ajuda médica emergencial e dificultam a relação de tal sofrimento com as questões psicossociais de que provém.

Muitos estudiosos não utilizam o termo “somatização” para diagnóstico de uma patologia específica, mas como conceito geral para designar manifestações corporais, geralmente associadas a quadros ansiosos ou depressivos, dos quais tais sintomas são também característica. Um levantamento realizado em 2007, identificou em artigos científicos descrições de sintomas somáticos relacionados à diversas patologias em diferentes áreas médicas como a Psiquiatria, Neurologia, Gastroenterologia; Ginecologia, Cardiologia, Reumatologia, Otorrinolaringologia e Dermatologia, além da Psicologia. Muitas citações são relacionadas a transtornos como o dismórfico corporal, depressão, ansiedade ou simplesmente dor.

Tantas referências científicas nos chamam atenção, então, de uma forma diferente para o que informalmente poderia ser considerado como um “peripaque” ou, muitas vezes, tão comumente de forma equivocada, “um ataque histérico”. São manifestações de grande sofrimento, que causam forte impacto até mesmo pelo envolvimento social que geram, pois impedem que um grande número de pessoas tenha uma vida produtiva e de qualidade.

Um dos primeiros casos de sofrimento intenso sem base orgânica encontrado na literatura, diz respeito a uma paciente do Dr. Breuer, com quem o médico austríaco Sigmund Freud trabalhou. A paciente foi atendida no período compreendido entre 1880 a 1882 e tinha o estado fisiológico marcado por sintomas como nervosismo, depressão, tendência ao suicídio, paralisias, perturbações visuais, contraturas musculares e outros que, como se pode imaginar, impediam que mantivesse condições de viver com qualidade. Na época, foram tentados diversos tratamentos médicos, incluindo a hipnose, ainda pouco conhecida, mas sem resultados satisfatórios. Foi observado, então, que quando a paciente conseguia relatar os momentos traumáticos de sua história de vida que pareciam ter ligação com os sintomas, estes começavam a desaparecer. Sendo assim, teve surgimento o primeiro tratamento terapêutico por meio da fala.

A partir de estudos feito desde então, esta forma de tratamento, denominada na época como “a cura pela fala” foi objeto de estudo e intervenção terapêutica, especialmente em Psicologia. Diversas abordagens utilizam o procedimento, no intuíto de trazer a tona as ligações do sofrimento vivenciado pelo paciente no contexto presente com sua história de vida.

Hoje, sabe-se que o comportamento verbal dos indivíduos permite a ocorrência de um processo por meio do qual é possível aproveitar como aprendizagem as experiências já adquiridas pelos outros. Sendo assim, ao manifestar-se verbalmente, na interação com o outro, cada pessoa tem a oportunidade de apresentar novos comportamentos, sem necessariamente ter passado pela situação prática de vivenciá-los. É na interação com o outro que novas formas mais adaptadas de agir se tornam possíveis e, sendo assim, o ambiente terapêutico se torna um campo fértil para a aquisição deste novo repertório.

A partir do entendimento de que o comportamento humano se modifica pela constante interação organismo-meio, se torna possível pensar em promoção de qualidade de vida. No processo psicoterapêutico ocorre a possibilidade de uma relação de ajuda mútua. Para Skinner (1974/2006), referência no estudo do comportamento humano, a terapia do comportamento é exclusivamente uma questão de idear contingências reforçadoras, ou seja: proporcionar ao paciente modificações possíveis no contexto terapêutico, nas quais pode desenvolver, de forma segura, comportamentos mais adaptados no seu cotidiano.

O tratamento Comportamental e Cognitivo para o Transtorno de Somatização, bem como para diversos outros sofrimentos de base psíquica, objetiva a diminuição dos sintomas e a prevenção das crises, promovendo qualidade de vida ao indivíduo, a partir do desenvolvimento de possibilidades de respostas alternativas. A terapia inclui, portanto, a possibilidade de treino e aquisição de um novo repertório comportamental, ou seja: a aquisição de novas formas de lidar com as questões que antes traziam sofrimento. Além disso, permite uma atuação bastante ativa do terapeuta que pode dar avisos aos pacientes, orientações ou instruções a serem seguidas com o objetivo de ser um facilitador do processo.

 

Tatiana Berta

Psicóloga e Psicoterapeuta Comportamental e Cognitiva

CRP Principal (06/93349)

Fone: (11) 98254.6237

Atendimentos em São Paulo: Rua Vergueiro, 2045/cj.1110 (Metrô Ana Rosa)

O conteúdo do artigo é  informativo e não substitui a consulta com um Psicólogo.


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