Amor e Limites: equilíbrio necessário!

     Aceitar as frustrações da vida, muitas vezes, é tarefa difícil para adultos inseguros e com um padrão de baixa tolerância. Reconhecer as próprias fragilidades e compreender que nem sempre as consequências que desejamos são as que, de fato, ocorrerão confere autoconfiança. Um adulto com características de autoconfiança possivelmente teve mais oportunidades para o desenvolvimento destas no decorrer de sua vida do que outro que possui dificuldades em aceitar que a maioria dos resultados depende também da ação do outro.

      Lamentavelmente, o que se vê, com frequência, nos consultórios psicológicos são pais com dificuldades de darem limites aos filhos, por medo de perderem seu amor ou admiração. Na tentativa de não os frustrarem, muitas vezes, tentando compensar a própria ausência na função de cuidadores, oferecem modelos inseguros às crianças, que acabam aprendendo, desde cedo, a manejar tais fragilidades. Nem sempre isto indica que a criança se desenvolverá com um padrão de conduta disfuncional, próprio de um Transtorno de Comportamento, mas vale salientar que a falta de modelos adaptados de interação pode gerar muitos prejuízos na construção das características individuais. Uma criança que é criada sem limites, torna-se um adulto que espera receber do mundo não somente o que precisa, mas o que quer (mesmo com sofrimento) e com pouca tolerância a frustrar-se. Esta criança, desde cedo, poderá estar aprendendo a manejar os contextos, nem sempre de forma adaptada e funcional, no sentido de conseguir o que deseja.

      Vale destacar, portanto, que ensinar os filhos a se frustrarem desde cedo é um treino necessário para uma vida de mais qualidade, pois nem sempre conseguimos o que queremos. Dizer “não” à criança, quando é preciso, faz parte desta tarefa. Na medida em que vão se comunicando com o mundo, as crianças vão tendo a aprovação ou desaprovação de suas atitudes pelas pessoas com quem convivem e vão, desta forma, aprendendo a selecionar os comportamentos que trazem mais benefícios. Os pais ou cuidadores, ao aprenderem a lidar adequadamente com comportamentos disfuncionais dos filhos, como os de birra (choro, gritos, jogar-se ao chão), os auxiliam a lidarem com situações na vida em que nem sempre falar mais alto ou ter crises explosivas resultará em consequências positivas. Aprender a colocar as atitudes inadequadas dos filhos em extinção, ou seja: favorecer com que estas comecem a dar lugar a outras mais adequadas não é tarefa fácil e pode requerer, além de treino e entendimento, uma  boa dose de paciência, uma vez que variar os comportamentos (mesmo os inadequados) na tentativa de obter um retorno positivo é parte do ser humano. Pais com alto grau de desgaste, relacionados a diversos fatores como trabalho e à própria relação conjugal, geralmente tem mais dificuldade para consequenciar de forma adequada os momentos de “teste” de seus pequeninos, gerando, muitas vezes, insegurança nestes, que ora podem receber a aprovação e ora a desaprovação, dependendo do “estado de humor” de quem os está educando.

      Ninguém é super-herói, embora a maioria de nós, muitas vezes, se empenhe para ser, já que o mundo nos exige uma capacidade que, muitas vezes, coloca em teste nossos limites para vivermos (por isso, o desgaste).  Para que uma criança cresça, sentindo-se segura e conquistando, a cada dia, a autoconfiança necessária para que se torne um adulto feliz, precisa sentir-se amada, independentemente de ter suas atitudes, algumas vezes desaprovadas. É necessário separar o que é uma atitude e o que é um conceito a respeito da criança: uma criança não é “feia” porque fez “algo feio” e não precisa criar um autoconceito negativo a respeito de si própria porque errou, tão pouco obrigar-se a um padrão de acertos que não poderá cumprir sempre, e que será causa de ansiedade.

     Educar os filhos é um ato de amor, sobretudo por implicar em renúncias necessárias. Antigos conceitos precisam ser abandonados, na tentativa de que os pequeninos sofram menos os efeitos das dificuldades da vida. No entanto, amar e dar limites são comportamentos que caminham juntos, pois os filhos aprendem não somente por meio das instruções recebidas, mas pela observação dos principais modelos de que dispõem. Aceitar as próprias limitações nos auxilia a aumentar nossas chances de obter mais ganhos na vida. Portanto, reconhecer as dificuldades, sobretudo no contexto familiar com relação aos filhos, pode ser elemento fundamental para uma mudança positiva para todos os envolvidos. Neste caso, o auxílio de um profissional que possa analisar e favorecer as mudanças comportamentais necessárias pode ser, sem dúvida, um importante recurso a ser disponibilizado.

“Quando os pais descumprem, sucessivamente, as regras por eles estabelecidas, ensinam aos filhos três atitudes indesejáveis: (1) que as regras não são para serem cumpridas; (2) que a autoridade (pais e professores) pode ser desrespeitada; além de (3) ensinar a manipulação emocional… Aprender que as regras podem ser descumpridas leva jovens a não aceitarem normas sociais.” (GOMIDE, 2009)


Para saber mais sobre “Regras e Limites” sugere-se a leitura de “Pais Presentes Pais Ausentes”, de Paula Inez Cunha Gomide, publicado pela Editora Vozes, em 2009.

Tatiana Berta

Psicóloga e Psicoterapeuta Comportamental e Cognitiva

CRP Principal (06/93349)

São Paulo/SP

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