Pânico: o transtorno da modernidade…
De repente, “do nada”, começam as sensações: palpitação (taquicardia), suor, náusea, sensação de desmaio, tontura e uma idéia fixa de que algo muito ruim vai acontecer… No meio desta confusão de pensamentos e sensações, é comum o corre-corre para o pronto atendimento mais próximo, numa tentativa desesperada de entender o que está acontecendo e prevenir algo muito ruim como um infarto! Sim, por incrível que pareça, muitas pessoas que estão em meio a uma desconfortável e angustiante Crise de Pânico acreditam realmente estarem sendo vítimas de um infarto!
E… Por que a confusão?
Isto ocorre justamente pela semelhança entre os sintomas. Pessoas com Transtorno do Pânico que não foram diagnosticadas corretamente, geralmente possuem a crença de que estão com uma doença ameaçadora à vida não detectada, que leva a uma ansiedade debilitante crônica e a excessivas consultas médicas. Além da crença, manifestam-se os sintomas e este conjunto de fatores ocasiona a piora do quadro.
Por que os sintomas ocorrem?
Nosso corpo, como uma “máquina inteligente” que é, foi criado com mecanismos para nos proteger de perigos, a fim que de que nossa vida seja preservada. No decorrer da história da espécie humana, aprendemos a desenvolver comportamentos em situações de ameaça, que facilitam a nossa sobrevivência. Diante de situações de perigo, como na iminência de um ataque de um animal feroz, sofremos fortes descargas de hormônios como adrenalina e cortisol, também conhecidos como “hormônios do estresse”, e então, manifestamos os sintomas de taquicardia, enrijecimento muscular e outros, que facilitam à sobrevivência, por meio das reações de luta ou fuga.
Em situações de estresse, tudo trabalha a fim de que o organismo melhore seu desempenho: mais sangue circula para que os músculos sejam nutridos; nossas pupilas se dilatam com a finalidade de que a visão seja melhorada; a freqüência cardíaca é aumentada; os brônquios se dilatam para melhor oxigenação etc. Toda essa mudança comportamental do corpo tem a função de que uma atitude nova seja tomada, o que pode ser positivo. Porém, se a exposição ao estresse for contínua, começa a ocorrer o desgaste, que pode fazer com que o organismo entre em falência.
Os constantes desafios do cotidiano como a sobrecarga de trabalho, relacionamentos difíceis que precisam ser tolerados, exposição constante às notícias veiculadas na mídia como assaltos, seqüestros e outras situações de desgaste, levam nosso corpo a trabalhar em excesso e alerta, como se estivesse preparado para defender-se, mesmo quando não existe perigo real. Assim, o estresse excessivo leva o corpo ao desgaste e à conseqüente tentativa de fugir do perigo ou lutar contra ele. O problema é que, muitas vezes, estas reações de “proteção”, acabam sendo disfuncionais, pois o perigo pode ser imaginário, criado para que nos comportemos de forma a nos esquivar de determinadas situações.
Até mesmo “ir ao trabalho” pode ser entendido de forma automática e disfuncional como “perigo” e, dependendo do grau de desgaste sofrido, fazer com que a pessoa desenvolva as crises com o objetivo de “fugir” da situação perigosa. Assim, muitas pessoas chegam até mesmo a parar de trabalhar ou evitar situações de convivência social e passam a isolar-se do mundo. No Brasil, segundo dados do IBGE, já em 2007, o número de indivíduos afetados por Transtorno de Pânico e Agorafobia, já passava dos 4.800.000.
Mas, o que fazer quando tais crises são tão recorrentes que acabam até mesmo prejudicando a capacidade de trabalhar ou trazendo prejuízos à vida social e familiar?
O primeiro passo é justamente consultar o médico e avaliar os sintomas. Feito o exame clínico e descartada a possibilidade de alguma causa orgânica, é necessário, então, procurar a ajuda psicológica, para que seja possível a compreensão dos sintomas. No ambiente terapêutico, por meio de uma relação de confiança estabelecida entre terapeuta e o cliente, é possível compreender o processo de desgaste e dar início ao treino de comportamentos alternativos, que facilitem lidar com as causas do estresse. Podem ser realizados exercícios de relaxamento e treino da respiração, que facilitam o controle das crises, bem como psicoeducação, ou seja: a orientação sobre os sintomas e sobre que atitudes tomar diante deles. Além disso, é importante aprender a identificar os comportamentos disfuncionais, como pensamentos equivocados de que não será possível lidar com algum problema específico ou que algo de muito ruim ou catastrófico vai acontecer.
O treinamento de habilidades sociais, ou seja: o aprendizado de novas formas de colocar-se nas relações é uma poderosa arma contra as crises de pânico, uma vez que auxilia a pessoa a perceber que pode, dentro do possível, manter o auto-controle nas situações. Para que ocorra a prevenção de recaídas, o Psicólogo atua no sentido de manter a reestruturação constante dos pensamentos, por meio das técnicas da terapia comportamental e cognitiva. A forma como nos vemos e nos colocamos no mundo é o que nos identifica enquanto indivíduos e está diretamente relacionada com o ambiente em que nos encontramos. Sendo assim, a qualidade nas interações sociais auxiliará numa vida menos ansiosa e com melhor qualidade. Um ótimo treino de interação social está justamente na possibilidade de criação de um vínculo terapêutico entre Psicólogo e cliente.
Uma dica: se permita! As situações só mudam, de fato, quando nos permitimos às mudanças. O Transtorno de Pânico existe há décadas e já foi chamado de muitas formas, no entanto, ainda hoje é pouco compreendido, justamente por estar relacionado à forma única com que cada indivíduo interage com o mundo a sua volta. Não há receitas, pois cada ser é único, mas há excelentes protocolos em Psicologia para o tratamento que, ao serem conhecidos e treinados, levam ao controle das crises e à melhor qualidade de vida.
Tatiana Berta
Psicóloga e Psicoterapeuta Comportamental e Cognitiva
CRP Principal (06/93349)
CRP RS (07/20139)
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O conteúdo do artigo é informativo e não substitui a consulta com um Psicólogo.