Quando ouvia, ao longo de minha infância e adolescência, frases do tipo “você é inteligente”, mesmo sabendo que estava recebendo o que, socialmente, poderia ser considerado um elogio, me sentia muito incomodada (como se habilidades ou estados fossem inatos e permanentes).
A pior delas, neste sentido, foi “você tem sorte” (esta sim, veio acompanhada de muito desconforto).
Aos poucos (em longo prazo), fui percebendo que o que me incomodava não era o “rótulo” (com intenção de elogio ou até “disfarçado de”), mas as regras (que eu mesma criava) acerca de como tinha que agir para continuar a “merecer tal titulação”.
Parte essencial, no entanto, era desconsiderada, obviamente, por quem (mesmo com boa intenção) rotulava: a parte do esforço!
Afinal, todo o esforço empreendido para “ser isso ou aquilo” não podia ser visto por quem olhava “de fora” (estava sob a própria pele).
Quanto mais recebemos rótulos, mais alto o “risco” de querermos “nos apegar” e, muitas vezes, de perdermos o foco no que foi construído ou no que se deseja, de fato, construir.
Uma habilidade, um trabalho, um título ou oportunidade, conquistado a partir do que realmente faz sentido para cada um, é o que realmente nos identifica em nossa totalidade, única e singular.
Atender expectativas? De vez em quando, porém se forem as próprias!
E a tal da “inteligência”? Não existe sem esforço. O constructo diz respeito não somente ao nosso “aparato orgânico”, mas às habilidades que desenvolvemos na interação com o meio em que estamos inseridos.
Tatiana Berta Psicóloga