Apegar-se e desapegar-se: a separação como forma de crescimento

“Morrer” ou “perder alguém que se ama” são respostas que geralmente encabeçam muitas pesquisas sobre os maiores medos do ser humano. Estudiosos do comportamento, como J. Bowlby (1907-1990) pressupõem que as primeiras relações fornecem a base para o desenvolvimento da autoconfiança. Em linhas gerais, podemos definir apego como o tipo de vínculo no qual o senso de segurança encontra-se relacionado. Assim, a partir de nossas primeiras experiências com a figura de apego, a segurança e o conforto experimentados serviriam de modelo para os próximos relacionamentos, o que facilitaria o desenvolvimento de autonomia para explorar o mundo.

Por se tratar de um estado interno, o apego pode ser observado por atitudes que nos possibilitam conseguir e manter a proximidade em relação àqueles que identificamos e consideramos como mais aptos para lidar com o mundo. São exemplos dessas atitudes desde cedo: sorrir, fazer contato visual, chamar, tocar, agarrar-se, chorar, ir atrás etc. Bowlby (1959) , esclarece que, ao mesmo tempo em que é possível ver comportamentos de apego em muitas pessoas, o apego duradouro, no sentido de vínculo ou laço é restrito a poucas. O que sabemos é que não somente as atitudes dos pais ou as vivências com outras pessoas na infância são responsáveis pela formação da capacidade de estabelecer laços de forma segura, mas uma junção de fatores genéticos e ambientais auxilia a desenvolver a forma como cada um faz a representação interna dessas figuras.

A tarefa da psicoterapia para queixas como dificuldades em relacionar-se e, especialmente, em fazer vínculos que implicam em confiança mútua, consiste em auxiliar o paciente a avaliar como seus modelos de vínculo foram aprendidos no decorrer de sua vida e, a partir das situações de vivência atuais, auxiliar no manejo de possibilidades que favoreçam para que outro padrão de interação possa ser estabelecido.

Muitas vezes ouvimos tentativas de justificativa para padrões de maior ou menor segurança com argumentos do tipo “sou assim mesmo”, ou “meus pais eram ou me ensinaram assim”… Argumentos como esses, embora possam indicar conformismo, podem também sinalizar que já é mais do que hora de nos responsabilizarmos pelas mudanças que desejamos, lembrando-nos que, embora nem sempre tenhamos experimentado a oportunidade de vivenciar laços de segurança em nossa infância, não somos seres prontos e, portanto, temos a possibilidade e o dever de nos permitirmos considerar a necessidade do desenvolvimento de relações mais amorosas, que favoreçam o respeito e o acolhimento necessários para que formemos outros conceitos, que sirvam de outras referências para o futuro.

               *Tatiana Berta Otero

*Psicóloga Clínica, Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva – USP-,  Mestre em Saúde Coletiva/Ciências – UNIFESP

 

 

Bibliografia de apoio:

Bowlby, J. (1959). Separation anxiety. International Journal of PsychoAnalysis, XLI, 1-25.