Assertividade: desenvolvendo habilidades sociais

“Você ganha forças, coragem e confiança a cada experiência em que você enfrenta o medo. Você tem que fazer exatamente aquilo que acha que não consegue.” Anna Eleanor Roosevelt 

Assertividade: desenvolvendo habilidades sociais

Neste primeiro texto sobre o desenvolvimento de habilidades, mais especificamente nas relações, gostaria de conversar um pouquinho com o leitor sobre a relação dos comportamentos assertivos e a autoconfiança.

A forma como nos vemos é única e construída a partir de nossa interação com o meio, em cada experiência vivida. Quando o efeito de uma ação que realizamos é positivo ou nos proporciona alívio, esta ação passa a ser mais utilizada em nosso repertório individual. Desta forma, aquilo que entendemos como um “acerto” vai fazendo parte de nosso padrão comportamental (ações, pensamentos ou sentimentos). A forma como nos colocamos nas relações é, portanto, moldada a partir de nossas experiências de vida.

Para que consigamos viver em harmonia nos diferentes contextos, bem como obter confiança e/ou confiar nas pessoas, é importante observarmos o respeito às próprias necessidades como um pré-requisito. Isto corresponderia a, sempre que necessário, emitirmos comportamentos condizentes com nossas necessidades, como saber “dizer sim ou não”, enfrentar/solucionar problemas, oferecer e receber ajuda, priorizando o respeito a si próprio, sem desrespeitar o outro.

Muitas vezes, crenças individuais, construídas a partir da educação que recebemos ou de experiências vividas como “não sou capaz ou não posso realizar isso ou aquilo” são acompanhadas por sentimentos de culpa, frustração e por limitação de nosso potencial. Estudos sugerem* que existe uma relação entre assertividade e ansiedade, no sentido em que quanto mais medo um indivíduo tiver em se colocar nas interações sociais, mas dificuldades terá em obter respostas positivas, quando estas são necessárias.

Imaginemos uma mulher 24 anos, solteira, que aqui chamaremos de Júlia e um homem, 30 anos, também solteiro, chamado João. No exemplo abaixo, há uma suposta interação entre eventos:

dizernao

 

Diante da possibilidade de iniciar uma conversa com Júlia

João sente-se desconfortável (lembrando-se de que não tem sorte com as mulheres). Ao chegar perto da moça, estabelece um diálogo e, preocupado com o que ela pensaria sobre ele, acaba esquecendo de perguntar-lhe o nome ou pedir-lhe uma informação de contato.

Ao sair da interação, sente-se aliviado por não ter a “tarefa” de manter o contato e frustado, já que, ao mesmo tempo em que continua sozinho, desejaria estar acompanhado por alguém.

Na situação exemplificada, vemos que a ideia de que não se “tem sorte em determinado aspecto da vida”, por exemplo, pode estar sendo mantida por um padrão de esquiva (muitas vezes por medo) das possibilidades de interação social. Neste caso, a pessoa pode ter vivido poucas situações em que precisava se colocar socialmente, devido a diversas razões como o excesso de cuidados para com ela, durante a história de vida ou ainda por uma educação muito rígida, com critérios específicos que norteariam a escolha do futuro parceiro.

Desde muito cedo, desejamos ser aceitos e amados. Se uma criança só recebe carinho ou elogios quando “se comporta bem”, provavelmente necessitará da aprovação do outro como um norte para suas atitudes, podendo se tornar um adulto que acredita que não pode desagradar as outras pessoas, sob pena de não ser reconhecido ou mesmo ser excluído do grupo ou ainda um indivíduo inseguro, que se esquiva das possibilidades de erro, quando estas fazem parte de qualquer tentativa.

A forma como nos vemos tem uma relação direta com as consequências positivas que decorrem de nossas experiências. Uma boa notícia é que estudos indicam que não existe uma predeterminação de um nível de autoestima para cada pessoa, portanto, há sempre possibilidades de mudanças, a partir da utilização dos recursos adequados. Quanto mais assertivos (ou condizentes com nossas necessidades, desde que respeitemos os direitos alheios), mais facilmente nos colocaremos diante de possibilidades que fortalecem nossa confiança.

Numa próxima publicação, conversaremos um pouquinho mais sobre o que nos dizem importantes estudiosos em comportamento humano sobre o desenvolvimento de comportamentos mais assertivos ou habilidosos socialmente.  Uma dica que gostaria de deixar é a seguinte: diante das possibilidades, arrisque sempre! A desistência, algumas vezes, pode ser considerada uma falha. No entanto, toda a tentativa é, certamente, uma possibilidade de acerto.

Tatiana Berta

Psicóloga Clínica, Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva

Bibliografia Consultada:

ACAMPORA, Beatriz. O poder da autoestima (online). Disponível em www.portalcienciaevida.com.br

BANDEIRA, Marina et al . Comportamento assertivo e sua relação com ansiedade, locus de controle e auto-estima em estudantes universitários. Estud. psicol. (Campinas),  Campinas,  v. 22,  n. 2, June  2005 .