“Quem manda na casa?” : diferenças entre falta de limites e transtorno de comportamento

O transtorno desafiador opositivo costuma por vezes ser “confundido” com o que se chama de “temperamento forte”, “gênio difícil”, termos tão usados no passado, numa tentativa de explicar porque algumas crianças insistem em desafiar, desobedecer regras ou discutir com adultos. Alguns critérios podem auxiliar a diferenciar o quadro e outros comportamentos, comuns ao processo de aprendizagem de regras e limites. Para que se caracterize um transtorno desafiador opositivo, é preciso observar a ocorrência frequente (pelo período de, pelo menos 6 meses) de perda de paciência; discussão com adultos, recusa ao obedecimento de solicitações ou regras, ações deliberadas para aborrecer outras pessoas, responsabilização de outros pelos próprios erros, mau comportamento e facilidade para ser aborrecido pelos outros. Normalmente, a avaliação é feita por profissionais (médico ou psicólogo), a partir da ocorrência nos diferentes contextos (escola, família, convivência com amigos etc).

As crianças, neste padrão, apresentam grandes problemas na sua relação com os pais, com figuras de autoridade, professores, até mesmo com os pares na escola. Em alguns casos, existe uma relação com outros transtornos, como os de ansiedade e aprendizagem, prejudicando não somente a socialização, como também o progresso acadêmico da criança.  As causas podem ser encontradas tanto em fatores genéticos como no ambiente em que a criança vive – a literatura mostra que a prevalência maior é na junção dos dois fatores, mostrando novamente a importância das relações familiares no crescimento e desenvolvimento da criança.

Por vezes nota-se que os pais, professores acabam por aceitar comportamentos de birra, de exigências, de não aceitação de imposições e regras como algo que vai “passar” e que não vale a pena impor limites naquele momento. No entanto, essas crianças precisam de atenção, limites e tratamento adequado para que possam aprender a tolerar frustrações, ouvir os adultos e seguir as regras que são impostas sem ataques de fúria, minimizando seu sofrimento e dos que com ela convivem. Nesses casos, é aconselhável ajuda multiprofissional, técnicas cognitivo-comportamentais – como o treino em habilidades sociais e psicoeducação familiar, dentre outros manejos terapêuticos. Como sempre pontuamos, é necessário que observemos nossas crianças, seja em casa, na escola, no lazer, para que as atitudes sejam notadas e acompanhadas, trazendo melhoras para a criança, familiares e colegas. A escola é nesse sentido um grande aliado dos pais, pois é lá que a criança passa a maior parte de seu tempo! Uma boa comunicação (frequente) entre pais e professores/coordenadores pedagógicos para o acompanhamento da criança no ambiente escolar facilita muito na identificação de possíveis problemas e futuros manejos.

Paulo Sergio Estevam Ferreira (CRP 06/93350) e Tatiana Berta Otero (CRP 06/93349)

Psicólogos Clínicos, Especialistas em Terapia Comportamental e Cognitiva/USP

Consultas com o Psicólogo e Psicopedagogo Paulo Estevam poderão ser agendadas também pelo email [email protected] ou fone 98213.1941 

Bibliografia:

Teixeira, Gustavo. Manual dos transtornos escolares. RJ, 2013.

DSM – V (APA, 2015)

Weber, Lidia. Eduque com carinho. Curitiba, 2007.