Quando o estresse dói na pele!

Será que consigo responder?

– Qual foi meu último desconforto físico?

– Que pensamentos tenho nas horas que antecedem meu afazer/compromisso/trabalho?

– Quando chego no local de trabalho (ou convivência), me percebo com energia ou com vontade de voltar para casa?

– No final do dia, tenho vontade de realizar outras atividades e estar em contato com as pessoas ou preciso deitar e tentar repousar?

– Como está meu sono: tranquilo, agitado ou sequer consigo dormir?

            Estas e outras questões sinalizam como está a auto-observação de nossas reações que, na maior parte das vezes,  no “modo automático”: acontecem sem que nos demos conta. Em condições adequadas, nossos órgãos procuram trabalhar em conjunto, de forma harmoniosa.  No entanto, quando este equilíbrio é alterado por algum gatilho (agente), o estresse entra em ação. Este processo de alteração da produção hormonal ocorre numa tentativa de adaptação que, embora gere esforço, não costuma causar danos. No entanto, quando os níveis de estresse continuam elevados por grandes períodos, poderá iniciar-se, então, o período de exaustão, no qual ocorre a  disfunção das defesas imunológicas, dando início às doenças associadas à condição estressante. Quando esta situação se torna repetitiva ou crônica, os efeitos ocorrem em cascata, podendo debilitar severamente o organismo.

            Inúmeras são as doenças relacionadas ao efeito da exposição contínua aos agentes estressores, incluindo desde as respiratórias, como asma, até as doenças de pele, como dermatites, alergias e quedas de cabelo. Recentemente, pude conhecer melhor uma condição crônica, denominada disidrose, que exemplifica a questão. Erupções na pele, em formato de bolhas, especialmente nas mãos, que provocam grande coceira, dor e posteriores rachaduras, apareceram em um momento em que meu organismo estava sendo exigido ao máximo, quase sem descanso. Os sintomas da doença, cujo tratamento medicamentoso se resume basicamente à busca de alívio dos sintomas, costumam permanecer por longos períodos e a recidiva é certeira.

             Assim como ocorre na disidrose, em outras doenças nas quais não é possível identificar causas, o que tem se observado é que gatilhos estressores são deflagradores de crises. Os desencadeadores podem estar presentes em qualquer contexto: desde microorganismos até eventos psicossomáticos. Assim, o ambiente de trabalho e até mesmo as relações a que nos expomos deveriam ser cuidadosamente selecionados, especialmente por indicarem a probabilidade de longos períodos de convívio (exposição). A escolha pela permanência em locais de grande competitividade como grandes corporações ou nos quais há grande busca por notoriedade e originalidade, quando não são oferecidas boas condições para compensar o desgaste ou quando o perfil individual já é de muita autocobrança, pode ser indicativo de problemas futuros. A evitação ou desistência podem não ser o melhor caminho, porém, entrar em estado de alerta, embora seja um mecanismo necessário para nossa sobrevivência, precisa estar na medida para não ser utilizado de forma contrária ao propósito, que é justamente o de proteção. Para tanto, a moderação se torna necessária, tanto para as escolhas individuais como para a busca de ferramentas que possibilitem aprender a lidar melhor com as dificuldades do cotidiano.

            Da mesma forma que é possível  prevenirmos a deflagração de um foco de fogo, é possível estarmos  atentos para possíveis gatilhos deflagradores de doenças. A auto-observação das reações individuais nos diferentes ambientes pode ser uma ferramenta poderosa de autoconhecimento e promoção de saúde. É sempre importante buscarmos formar alternativas de adaptação, a fim de atingirmos nossos objetivos, desde que observemos o limite individual.  E… Se as tentativas não surtirem efeitos positivos, muitas vezes, a depender do ambiente, é necessária a aceitação  de que o afastamento pode ser é a melhor saída!

Tatiana Berta Otero

Psicóloga Clínica (CRP 06/93349) – Terapeuta Comportamental e Cognitiva (USP), Mestre em Saúde Coletiva (Escola Paulista de Medicina/UNIFESP)

 

 

Bibliografia:

Minelli L et all,  Disidrose: aspectos clínicos, etiopatogênicos e terapêuticos, An Bras Dermatol. 2008;83(2):107-15.