Terapia de Casal: quando buscar ajuda?

 

O início de qualquer relacionamento é permeado pelo encantamento e, sobretudo, pelo desejo de encontrarmos no outro tudo aquilo que precisamos para nos sentir plenos. Expressões como “ele(a) encontrou a metade da laranja” ou “a tampa da panela” são de uso comum e costumam referir o quanto uma relação aparenta estar funcionando bem. De forma metafórica, no entanto, podemos dizer que quando a tampa da panela amassa e o encaixe se torna difícil, começa a aparecer a necessidade de se reparar o estrago ou de aceitar uma condição diferente da que antes se apresentava. Embora o valor de uma relação não possa ser mensurado e tão pouco comparado ao de um objeto, gosto muito quando ouço dizerem que antigamente as pessoas costumavam olhar para o casamento como algo que podia ser consertado e não a ser descartado, quando não funciona bem. Por esta razão, acredito que cada “amassadinho” na tampa da panela pode indicar a necessidade de mais cuidado com o que foi elegido como necessário e especial na vida.

casal na cozinha

Quando uma relação não funciona bem, geralmente o primeiro sinal visto é a dificuldade de comunicação do casal. Lembremos que a comunicação entre os seres humanos ocorre de diversas formas: por meio do comportamento verbal ou não-verbal. Comunicar é uma forma de interação e provoca mudanças no outro e estas, por sua vez, trazem consequências (preferencialmente positivas) para nós mesmos. Uma vez que todo comportamento reforçado tende a fortalecer-se, quando a comunicação de um casal enfraquece, é sinal de que a relação pode não estar sendo “bem alimentada”. Reforçar o parceiro em uma relação está, portanto, ligado ao interesse que temos em continuar na relação. Um sorriso, um elogio, o afeto ou até mesmo um olhar podem ser reforçadores, dependendo da história de vida individual e do casal. Quando estes comportamentos, antes alimentados na relação, começam a dar espaço para o distanciamento do casal, sem que outros interesses comuns possam aparecer, é sinal de que algo não vai bem.

Muitas vezes, um problema individual como um repertório empobrecido de habilidades sociais pode interferir na qualidade de vida de um casal. Indivíduos que não conseguem falar sobre seus sentimentos ou mesmo dar limites ao parceiro (dizer sim e não), sinalizando seus próprios limites correm o risco de frustar-se, esperando demais da relação. Conforme o tempo vai passando, a rotina e as necessidades do dia a dia vão, muitas vezes, “mascarando” as dificuldades na relação e vai ficando mais difícil retomar o cuidado necessário com o outro. Pequenos problemas, comuns ao cotidiano e antes tolerados mais facilmente, acabam se tornando gatilhos para grandes discussões que vão, aos poucos, acompanhadas por mágoa, afastando ainda mais o casal.

 Quando o afastamento toma conta da relação, muitas vezes é recomendável o auxílio profissional. A terapia de casal pode ser indicada, uma vez que o terapeuta, como um mediador, pode auxiliar na resolução dos conflitos, favorecendo a comunicação entre o casal. De acordo com Barbosa L. et al “O objetivo do psicólogo é prestar serviço competente dentro da linha a qual se propôs a atender, com o intuito de ajudar os parceiros conjugais a lidarem de forma mais efetiva com seus problemas, reduzindo os conflitos existentes.”

Para Sadock e Sadock (2007), seja qual for a técnica terapêutica específica, o início da terapia de casais é indicado quando a terapia individual não conseguiu resolver as dificuldades de relacionamento, quando o sofrimento de um ou ambos os parceiros é claramente um problema de relacionamento e quando a mesma é solicitada por um casal em conflito. Quando falamos em conflito, estes podem ser diversos como a diminuição do desejo sexual, a dificuldade de valorizar os aspectos positivos da relação (enfatizando os negativos), a dificuldade no manejo da educação dos filhos, sentimentos de indiferença com relação ao parceito ou falta de ânimo para compartilhar sentimentos ou planos, o desejo de ficar mais tempo no trabalho e menos em casa, com a família, poucos momentos de lazer compartilhados, dentre outros.

De forma geral, a terapia de casal se justifica quando há sofrimento na relação, acompanhado da dificuldade do casal ou de um dos parceiros em promover as mudanças necessárias. Na primeira consulta, o psicólogo poderá avaliar, de forma conjunta com o casal, se é possível dar início à terapia nesta modalidade. Muitas vezes, é recomendável a terapia individual, a fim de que possam ser observados sofrimentos relacionados ao padrão de um dos parceiros, como possíveis dificuldades de comportamento que apresentadas em outros contextos, independentes da relação ou mesmo situações vivenciadas na história de vida anterior ao casamento, que precisam ser melhor compreendidas.

Cada vez mais, em minha experiência profissional, percebo que o mais importante a ser considerado é que se houve, no início de relação, o encantamento pelos comportamentos revelados pelo parceiro, com a função de tornarem-se parte de uma vida em comum, este aprendizado pode ser resgatado, dependendo do empenho individual, do caminho construído até então e do caminho que se deseja percorrer, quando há objetivos para a relação.

Psicóloga Tatiana Berta

Terapeuta Comportamental e Cognitiva

CRP: 06/93349

Bibliografia Consultada:

Barbosa, L. M; Piovesan, A; Barletta, J. B. (2010). Terapia de Casais na Perspectiva Cognitivo-Comportamental. Cadernos de Graduação – Ciências Biológicas e da Saúde – v. 11 – n 11.

Sadock, B. J.; Sadock, V. A. (2007). Compêndio de psiquiatria: ciência do comportamento e psiquiatria clinica. 9ª edição – Porto Alegre: Artmed.