Resiliência: o que nos faz fortes?

Você sabe o quanto é resiliente? Às vezes, não fazemos ideia, mas creia: certamente, muito! Consegue lembrar de quantas vezes “deu a volta por cima”? Estas lembranças são somente uma pequena amostra desta capacidade…

O termo “resiliência” é relativamente novo na área da saúde, no entanto vem sendo utilizado cada vez mais, quando nos referimos à habilidade que desenvolvemos para superar as dificuldades. A superação aqui mencionada não diz respeito à capacidade de sairmos ilesos – o que poderia ser considerado como invulnerabilidade – mas à capacidade de superação das adversidades. A palavra resiliência foi originalmente usada pela Física e pela Engenharia, em referência a alguns materiais capazes de absorverem um choque sem perderem suas propriedades, portanto materiais resistentes. Podemos, então, de forma simples, definirmos resiliência como a capacidade que temos em nos reequilibrarmos diante dos “choques” (dificuldades) da vida.

Nos animais, vemos a capacidade de adaptação ao meio, em função da sobrevivência. O exemplo da águia é talvez um dos mais belos:

“A águia é uma ave que chega a viver até 70 anos. Mas, para chegar a essa idade, ela tem de tomar uma séria e difícil decisão por volta dos 40 anos. Nessa idade, ela está com as unhas compridas e flexíveis, não conseguindo mais caçar suas presas para se alimentar; seu bico alongado e pontiagudo já está curvo; suas asas estão apontando contra o peito, envelhecidas e pesadas em função da grossura das penas; e voar já está se tornando uma tarefa difícil! Então, a águia só tem duas alternativas: morrer… ou enfrentar um dolorido processo de renovação que irá durar 150 dias. Esse processo consiste em voar para o alto de uma montanha e recolher-se em um ninho próximo a um paredão, onde ela não necessite voar. Após encontrar esse lugar, a águia começa a bater com o bico contra a rocha até conseguir arrancá-lo. Após arrancá-lo, espera nascer um novo bico, com o qual vai depois arrancar suas unhas. Quando as novas unhas começam a nascer, ela passa a arrancar as velhas penas. E somente depois de cinco meses ela sai para seu famoso vôo de renovação. E poderá viver, então, por mais 30 anos.”

E por que é tão importante que os seres humanos melhorem cada vez mais esta habilidade?

O enfrentamento das dificuldades é um passo essencial para o progresso pessoal e profissional de cada um. Na tentativa de protegerem os filhos, muitas vezes, pais ou cuidadores ingenuamente os privam das dificuldades do cotidiano. Imaginando estarem oferecendo conforto e proteção, temem dar limites ou dizer não aos pedidos, mesmo quando estes são desadaptados às necessidades da criança. No entanto, a consequencia, muitas vezes, é uma falta de treino, desde cedo, para lidar com as frustrações e com os muitos “não” que a vida oferecerá no decorrer da história de cada um. O mundo atual, com toda a competitividade e todas as demandas que nos impelem a usar cada vez mais nossas energias em função de nos protegermos das dificuldades e termos mais qualidade de vida, muitas vezes, não favorece que sempre tenhamos ganhos. Perdas são constantes e necessárias como aprendizado. Quanto mais treinarmos nossa capacidade de lidar com as frustrações, mais fortes nos tornamos para passar por dificuldades semelhantes no futuro.

Estudos indicam que o processo de resiliência ocorre devido a uma combinação de diversos fatores: individuais, familiares, ambientais, sociais e culturais e que para um indivíduo ser considerado resiliente deve haver um equilíbrio entre os fatores considerados de risco e os de proteção. Os fatores de proteção estão relacionados às condições como boa autoestima, flexibilidade diante das adversidades, ambiente familiar onde predomine estabilidade, tolerância e respeito etc. Já os fatores considerados de risco são os que dizem respeito ao mau-humor, baixa tolerância à frustração, passividade, pouca habilidade de comunicação, ambiente hostil ou desorganizado, dentre outros. Embora seja bastante clara a diferença entre os fatores de risco e os de proteção, o fato de a pessoa conviver mais com fatores de risco não indica que não seja resiliente: é justamente como ela convive com os riscos é o que a faz mais ou menos resiliente diante das adversidades.

É importante considerarmos a resiliência como uma característica possível e comum a todos os seres e que uma pessoa pode ser resiliente em algumas situações e em outras não, o que não significa que se a pessoa não superou todas as experiências traumáticas de sua vida, não seja considerada resiliente. A capacidade de superação é desenvolvida e depende, portanto, de uma série de variáveis que ocorrem de acordo com a vivência de cada um. Na medida em que conhecemos como nos comportamos diante das situações de adversidade, podemos transformar, dentro do possível, o ambiente, criando condições que favoreçam uma melhor adaptação e consequente qualidade de vida.

Referências:

BELANCIERI, Maria de Fátima; BELUCI, Marli Luiz; SILVA, Daniela Vitti Ribeiro da  and  GASPARELO, Ederli Aparecida. A resiliência em trabalhadores da área da enfermagem. Estud. psicol. (Campinas) [online]. 2010, vol.27, n.2, pp. 227-233. ISSN 0103-166X.

Curiosidade sobre a águia. Online. Disponível em www.sitedecuriosidades.com/curiosidade/curiosidade-sobre-a-aguia.html

Tatiana Berta
Psicóloga Clínica
Terapeuta Comportamental e Cognitiva – USP
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