Volta às aulas com confiança: dez dicas para mamães, papais e responsáveis

Depois de algum tempo fora da rotina, geralmente caracterizado pelo contato mais frequente com a família – isso sem falar nos “mimos” dos avós e outros parentes ou amigos, a famosa volta às aulas costuma sinalizar, para muitas famílias, um período de dificuldades, que pode incluir desde recusa da idéia de ir para a escola até mesmo problemas com o sono e outras mudanças de comportamento nos pequenos.

​Se para os adultos, já é complicado reconhecer seus medos como “irracionais” ou desproporcionais, para as crianças, este processo pode ser bem mais difícil. É importanteauxiliá-las, desde cedo, que o afastamento dos pais, não necessariamente representa umaameaça, pois para eles (ou para outras figuras de afeto) poderão retornar, quando necessário, buscando seu “porto-seguro”. O vínculo afetivo com os primeiros cuidadores constitui a base que utilizaremos em nossos relacionamentos, ao longo da vida. É necessário, portanto, que o adulto proporcione segurança, estimulando a criança a explorar seu ambiente. Para isso, pais precisam envolver-se na compreensão do comportamento do filho: de seu desejo de ser amado e cuidado e de suas possíveis fontes de frustração, provendo suas necessidades, ao mesmo tempo em que estabelecem limites.

​Por isso, neste período de retorno às atividades escolares, em que “o novo bate à porta” de pais e filhos, algumas dicas podem auxiliar no processo de descoberta, com todas as possibilidades para o desenvolvimento das habilidades sociais, que tanto favorecem nossos pequenos:

1) Antes de escolher a escola do seu filho, leve em consideração o fato de que quanto mais a proposta pedagógica e o ambiente se parecerem com o esquema de rotina e valores que procuram estabelecer em casa, mais fácil será a adaptação de todos. Conheça antecipadamente as instalações da escola e os professores, se possível. Uma boa ideia é conversar diretamente com a coordenação pedagógica, uma vez que esta representa a integração de todos os agentes envolvidos no processo;

2) Por mais que, no período de férias, a rotina em casa não tenha sido a mesma do período escolar, é importante que, nos dias que antecedam a volta às aulas, os hábitos familiares com relação a horários, refeições, brincadeiras, afazeres, banho e sono, voltem, aos poucos, a se parecerem com aquilo que a criança irá encontrar daqui para frente;

3) Converse com seu filho sobre a escola, incluindo as possibilidades das diferentes atividades que poderá fazer e sobre o quanto pode ser bom estar com outras pessoas com quem possamos aprender;

4) Faça o trajeto de casa até a escola antes do início das aulas, familiarizando a criança. Lembre-se de que, até então, muitas vezes este percurso não fazia parte de sua história;

5) Leia para seu filho e procure figuras que retratem situações escolares: muitos livrinhos infantis e até mesmo gibis podem reportar situações prazerosas, dentro de sala de aula. Uma visita à livraria mais próxima com seus pequenos pode ser também uma atividade prazerosa, que se assemelha às tarefas que desenvolverá na escola;

6) Leve a criança para a aquisição do material escolar (ou parte dele): esta atividade, embora seja preocupante para muitos pais que receiam aumentar os gastos em função das escolhas dos pequenos, pode auxiliar a entrar em contato, de forma “concreta” e ativa com o processo (quem não se lembra da sensação de experimentar os novos cadernos escolhidos e canetinhas pela primeira vez?)

7) Aceite e trabalhe sua ansiedade: ocupe-se de algo que seja importante para você no período em que a criança estiver na escola. Desta forma, será mais fácil não favorecer pensamentos negativos sobre o estado de seu filho, no momento em que está na escola;

8) Nunca use a escola, curso de férias ou qualquer local associado à aprendizagem como forma de ameaça, dizendo que irá para lá se não se “comportar”. Este novo ambiente, no qual a criança passará grande parte de seus dias, precisa sinalizar situações positivas, que inspirem confiança;

9) Lembre-se: cuidadores seguros = crianças seguras! De nada adianta esperar que a criança esteja calma se, antes do primeiro dia de aula, os responsáveis se mostrarem irritados, preocupados ou superprotetores. Desenvolvemos nosso padrão de comportamento (pensar, agir, sentir) num encantador processo, que inclui diferentes fatores trabalhando conjuntamente. Por meio de repetição de modelos e aquisição de instruções, vamos adquirindo as habilidades que nos diferenciam, facilitando ou dificultando nossa adaptação às diferentes circunstâncias da vida;

10) Por fim, deixe o imediatismo de lado e confie no tempo! Nada como um dia após o outro, com uma boa dose de carinho e insistência para que tudo entre nos eixos. A repetição nos auxilia a estabelecermos nossa zona de segurança e nada na vida acontece sem um treino de tolerância à frustração. É claro que é bem mais gostoso quando podemos escolher imediatamente o que desejamos, porém sabemos que a vida não nos oferece somente esta possibilidade, mas as oportunidades que precisamos para o desenvolvimento de habilidades que auxiliarão na nossa adaptação aos diferentes contextos.

 

Tatiana Berta Otero
Psicóloga Clínica (CRP 06/93349)
Terapeuta Comportamental e Cognitiva – USP
Mestranda do Depto. de Medicina Preventiva da UNIFESP
www.tatianabertapsicologa.com.br

 

*Texto feito especialmente para o Blog “Afeto de Mãe”:

http://afetodemae.com.br/dez-dicas-para-a-volta-as-aulas-com-seguranca/?loggedout=true