Razão ou emoção: nem sempre “quem” ganha é o vencedor

Culpa, arrependimento, pensamentos que ficam reverberando do tipo “e se eu não tivesse feito”, “e se eu tivesse dito”, “e se… e se…” são eventos internos bem difíceis de serem vivenciados, mas que podem sinalizar um grau de tomada de consciência diferente do ocorrido no momento da “perda do controle”. Não é à toa que existem expressões populares para justificar ou, ao menos, tentar amenizar o desconforto de quem sofre por reconhecer algum estrago que veio como consequência de uma atitude tomada no momento errado: “Fulano estava fora de si” ou “Fulana perdeu a cabeça”.

Mas, como é possível perder a cabeça? Não deveríamos ter que “nos controlar” sempre? Para compreendermos isso, precisamos passear um pouquinho sobre o que nos contam as Neurociências e demais Ciências da Saúde. Nosso cérebro é moldado pelas experiências que vivemos e a cada situação podemos nos tornar mais fortes e resilientes. Conhecer o funcionamento do cérebro e como os relacionamentos sociais implicam em estimulação e desenvolvimento é um grande aliado do autoconhecimento e favorecimento do desenvolvimento de estratégias para lidar com todas as informações que recebemos do ambiente que nos cercam.

Para que possamos desenvolver a capacidade de escolhermos, de fato, a decisão que gostaríamos de tomar em determinada situação é necessário compreender que o cérebro funciona numa totalidade e que nosso trabalho é ajudar todas as partes que o compõe a trabalharem de forma integrada. O lado esquerdo do nosso cérebro nos ajuda na organização do pensamento lógico, enquanto o lado direito processa as emoções e os sinais não verbais. Há ainda uma outra parte, que nos permite agir instintivamente em situações ameaçadoras. Essa orquestra, quando em sintonia, promove algo lindo, que alguns cientistas denominam de “regulação”. Quando não estamos integrados, ficamos imersos nas próprias emoções e, muitas, vezes entramos num estado de confusão e caos.

 A boa notícia é que não nos perdemos de nós mesmos e, portanto, continuamos os responsáveis por desenvolver a maturidade que se deseja alcançar para melhores escolhas. Nem emoção nem razão, mas a harmonia entre as funções! Da mesma forma que treinam comandante e copiloto para o controle de uma cabine de comando, juntos, mas respeitando o piloto da vez, é possível treinarmos nossa autorregulação para um  patamar de segurança, por meio da exposição aos riscos com planejamento, aprendizado e constância. A evitação das situações por medo ou desconhecimento são grandes vilões no processo de autoconhecimento (geralmente com elas vem a crença de que não somos capazes). Uma atitude de autorrespeito, em situações de frustração, como dar um tempo a si próprio para que as emoções se acomodem ao restante do funcionamento é essencial para que possamos reconhecer o caminho a ser tomado. A base que permite a compreensão de todo este processo se dá no fato de termos descoberto que o cérebro é “moldável”, modificando-se durante toda a vida. E o mais belo é compreender o que gera a modificação, que é a vivência de cada experiência, ou seja: o que cada uma delas nos ensina a selecionar e utilizar.

 Tatiana Berta Otero (CRP 06/93349)

*Psicóloga Clínica, Especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva, Mestre em Ciências (da Saúde).