Estresse pós-traumático e impacto na qualidade de vida

 

Quando sofremos um evento traumático, ou seja: um acontecimento de grande impacto sobre nossa segurança como sermos submetidos à vivência de um acidente, violência, perda ou qualquer grande sofrimento físico ou emocional, ficamos com esse registro em nossa memória, ao longo de nossas vidas. Quando somos expostos à situações que nos colocam em risco, informações emocionais vão para um sistema cerebral que processa e analisa todo o ambiente, generalizando e criando memórias. O medo que sentimos após uma experiência traumática é chamado pelos cientistas de memória aversiva.

No entanto, embora seja necessário o registro da ameaça para que possamos nos manter longe do perigo, alguns aprendizados provenientes da experiência podem assumir caráter patológico, manifestando-se como sintomas, de forma reincidente e invasiva em situações de estresse.

Quando não é possível a compreensão/integração da experiência traumática na sua totalidade, ficamos num limiar entre situações estressantes e o trauma ocorrido, que podem ser a raiz de muitos transtornos psicológicos. O Transtorno de Estresse Pós-traumático pode ocorrer a partir do trauma vivenciado, impactando diretamente em respostas ansiosas e prejuízos importantes no funcionamento quando, de alguma forma, o cérebro “revive” o trauma. Os sintomas podem variar desde a intrusão de pensamentos negativos e recorrentes, sonhos angustiantes sobre situações relacionadas ao evento, dificuldade em lembrar com clareza os fatos ocorridos, afastamento de situações sociais, dificuldade em reconhecer emoções positivas até mesmo algumas reações de dissociação, como a perda da “noção” do momento presente.

A superação da vivência da situação sofrida está diretamente relacionada ao estado de resiliência, que varia de pessoa para pessoa. Quanto mais estivermos em condições para entrarmos em contato com sentimentos/atitudes que surgirem no decorrer dos dias pós evento, melhor vamos integrando a experiência vivida, de forma a não causar um impacto significativo no cotidiano. É justamente neste exercício de compreensão do sofrimento, que se caracteriza a ideia de superação. O trabalho multidisciplinar, realizado com apoio medicamentoso e psicológico é de extrema importância para o tratamento e melhora da qualidade de vida das pessoas que sofrem este tipo de transtorno, levando-se em conta que dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que os brasileiros que sofrem de ansiedade, de maneira geral, somam 9,3% da população do País.

Tatiana Berta Otero

*Psicóloga Clínica (CRP 0693349), Terapeuta Comportamental e Cognitiva, Mestre em Ciências (da Saúde).

 

Referências:

Jornal da USP: https://jornal.usp.br/ciencias/ciencias-da-saude/traumas-da-infancia-podem-estar-ligados-a-ansiedade-em-adultos/