Continue! (refletindo sobre a importância dos desafios)

Criar um filho, completar uma maratona, ser aprovado num concurso… Já reparou que vivências como essas: árduas, difíceis e desafiadoras  é que são justamente as mais significativas, prazerosas e recompensadoras? Geralmente, quando temos um ideal, vislumbramos somente o resultado e, com isso, acabamos não lembrando do esforço necessário para que cheguemos até ele. O processo é trabalhoso e, se possível fosse, certamente muitos quisessem “pular” essa parte.

Vale sempre lembrar que  desenvolvermos  “habilidade de superação”, não significa que saiamos de uma dificuldade “ilesos”,  porém mais resilientes: flexíveis e criativos. Um estudo, que acompanhou  698 pessoas, nascidas em uma ilha do Havaí, acompanhadas entre 2 e 32 anos de idade e que se desenvolveram dentre fatores como baixa escolaridade dos pais, estresse perinatal e baixo peso no nascimento  apontou que nenhuma delas desenvolveu problemas de aprendizagem ou de adaptação, o que não implica em não terem vivenciado sofrimento ou se tornarem invulneráveis à dificuldades futuras. Uma proporção significativa dessas crianças era proveniente de famílias cujos pais eram alcoólatras ou apresentavam outros sérios problemas de saúde (Werner & Smith, 1982). Dados como esses nos auxiliam a lembrarmos de nossa incrível capacidade de desenvolvimento, a partir do contato com o sofrimento, além de nos identificarmos com todos que também vivenciam adversidades, cada qual em sua realidade.

Sem o passo a passo não há ponto de chegada. Sem ele, não há sequer partida… Os desafios trazem propósitos à vida e, pouco a pouco, a cada recompensa vivenciada, vão coroando o esforço de sentido.

Quando não sabemos o que fazer, podemos tentar (com generosidade, respeitando nossos limites) um primeiro passo, que possa ser seguido de muitos outros. Adquirir consciência de para onde desejamos caminhar já pode ser um início que, embora com grande investimento de energia, venha acompanhado das resposta de que, algumas vezes, tanto desejamos. A beleza da caminhada também vai se justificando simplesmente por caminhar.

Referências:

Werner E. E.& Smith, R. S. (1982) Vulnerable but invincible: a longitudinal study of resilient children and youth. New York: McGraw-Hill.

Yunes MAM. Positive psychology and resilience: focus on the individual and families. Psicol. estud. [periódico na Internet]. 2003 [acessado 2006 abr 29]; 8(n. esp):[cerca de 10 p.]. Disponível em: http://www. scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413 -73722003000300010

 

Tatiana Berta Otero

*Psicóloga com especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva (USP), Mestre em Saúde Coletiva (Ciências) pela UNIFESP (Escola Paulista de Medicina)