Por dentro da Terapia de Casal: o que é, quando e como se faz

Os números de divórcio, cada vez mais elevados, tem chamado cada vez mais atenção em saúde, sobretudo pelo impacto direto na qualidade de vida dos envolvidos, não somente na relação conjugal, mas especialmente na família, como todo, na sua diversidade. Desta forma, muitos estudos têm demonstrado que os problemas de relacionamento do casal estão entre os maiores estressores da vida, associados a transtornos psicológicos como depressão e ansiedade.

Muitas são as hipóteses levantadas para a dificuldade de superação dos problemas do cotidiano como casal:  as pessoas têm mostrado baixa tolerância a frustrações e dificuldades, contudo exigem do casamento mais do que ele pode prover. (SCRIBEL & SANA, 2007). Muitos casais passam por conflitos que resultam em crises  e o que vemos recorrentemente é uma espera pelo limite do sofrimento para a busca do auxílio profissional.

Diversas situações podem levar um casal a procurar terapia terapia conjugal, como discussões cada vez mais frequentes, dificuldades na intimidade sexual ou problemas que não conseguem resolver em conjunto e que vão, por vezes, sendo “arrastados” até um limite que torna a vida como casal difícil de ser mantida. Quando esses problemas passam a ameaçar o bem estar dos parceiros e/ou demais pessoas que com eles convivem, já é mais do que passada a hora de buscar auxílio profissional.

O que ocorre na terapia de casal é que, com a ajuda (manejo do terapeuta – psicólogo, em sessão), é possível que se avalie e se intervenha para retomar a estabilização do equilíbrio mínimo necessário para a saída da situação de crise, antes que o sofrimento se torne crônico. Em Terapia Cognitivo-comportamental, se busca a compreensão das autorregras (pensamentos que não estão sendo funcionais para a qualidade da relação), bem como o treino de reconhecimento e autorregulação das emoções, acompanhando da modificação nos padrões de comunicação entre o casal. Para isso, o psicoterapeuta lança mão de diversas técnicas, tais como registro de pensamentos/comportamentos ocorridos: formulários para auxiliar na auto-observação de situações no cotidiano e questionamentos, promovendo reflexão em ambiente neutro (consultório), o que favorece a comunicação mais fluida.

É objetivo do psicoterapeuta auxiliar na compreensão e reconhecimento das diferentes formas de comunicação dos parceiros, bem como suas consequências benéficas (ou não) para a relação. Além disso, também é tarefa do terapeuta estimular o comprometimento individual com as mudanças que se fazem necessárias, acompanhando o decorrer do processo de desenvolvimento dessas.

“Nada ameaça o bem-estar e perturba a estrutura familiar tanto quanto às separações, divórcio, desemprego e morte (FIGLEY, 1983). O grau em que os membros dessas famílias se sentem desamparados é que vai influenciar o estado de crise delas”. As intervenções em situações de crise (ou preferencialmente antes dessas) não objetivam minimizar os estressores extermos, mas ajudar os casais, juntamente com suas famílias a lidar melhor com estes.

Tatiana Berta Otero

*Psicóloga, Terapeuta Comportamental e Cognitiva, Mestra em Ciências da Saúde

Referências:

FIGLEY, C R.  Catastrophes: An overview of family reactions. In C. R. Figley & H. I. McCubbin (Eds.), Stress and the Family, Vol. II: Coping with catastrophe (pp. 3-20). 1983, New York: Brunner/Mazel.

SCRIBEL, Maria do Céu; SANA, Maria Regina  e  DI BENEDETTO, Angela Maria.Os esquemas na estruturação do vínculo conjugal. Rev. bras.ter. cogn. [online]. 2007, vol.3, n.2, pp. 0-0. ISSN 1808-5687.