Autoestima e Fortalecimento das Relações

O sentimento de não aceitação é talvez um dos piores que alguém pode experimentar e possui uma relação direta com  ideias como as de “não ser desejado” ou “não ser amado”. A ideia de rejeição está ainda ligada ao desamparo. O ser humano, com toda sua complexidade, precisa do acolhimento do outro, desde o momento de sua concepção, a fim de tornar possível seu desenvolvimento. Se este outro não o aceitar, proteger e cuidar, a existência fica, então, comprometida. Quanto mais sentir-se aprovado, desejado e amado, mais seguro e feliz o indivíduo se desenvolve, o que favorece a construção de sua autoestima, ou seja: do conceito que fará de si próprio. Este dado é importante, pois nos leva a refletir sobre o papel do outro naquilo que nos caracteriza como seres únicos.

Quando não nos sentimos aceitos ou amados, pode haver um comprometimento da visão que temos de nós mesmos e, consequentemente, da forma como nos colocamos nas relações, ou seja: no mundo. Indivíduos com comportamentos inseguros podem ter convivido com cuidadores (e aqui incluem-se pais, parentes próximos, babás e todo aquele que teve um papel importante na vida da criança) que ora os reforçavam positivamente pelas suas atitudes ora os puniam severamente, comprometendo, portanto, a formação de um autoconceito positivo.

Em dicionários, observam-se definições para o termo “rejeição”, relacionadas ao “ato ou efeito de não aprovar”. Uma mãe (ou cuidadora) que fala que a filha é “linda” quando faz coisas que a agradam, mas que também afirma que a criança é “feia” porque sujou sua roupa, por exemplo, pode contribuir, desta forma, para que a criança crie um autoconceito frágil, que a faz ter dúvidas sobre sua aceitação pelo outro. Assim, torna-se necessário separar o que é somente um comportamento daquilo que já é um julgamento do indivíduo: deveria ser possível, neste caso, lembrar à criança que continua “linda”, amada ou qualquer outra qualificação, mas que fez algo que não foi bom e que precisa ser observado. Isso não significa desconsiderar os erros, mas enfatizá-los, de forma a ensinar novas possibilidades de ação e não apenas permitir que se tornem motivo de vergonha ou mal-estar.

Pesquisas recentes apontam que a dor provocada pela rejeição ativa as mesmas regiões cerebrais que atuam no envio das sensações de dor. Podemos comparar a dor deste sentimento a de uma queimadura, por exemplo. Quando se instalam registros negativos em nossas memórias, torna-se provável que eventos futuros, com elementos semelhantes aos vividos na experiência passada, desencadeiem sintomas físicos de ansiedade, o que seria uma tentativa interna de sinalização de perigo, ainda que não exista uma ameaça real.

Nas relações amorosas, o sentimento de rejeição é sempre temido, sobretudo no início do relacionamento, quando buscamos a aceitação do parceiro para que se estabilize, de fato, a relação. No término do relacionamento, o esperado é que as pessoas entendam que a ruptura foi necessária e que sejam capazes de tocarem suas vidas, porém para as pessoas mais inseguras e com autoestima fragilizada, é muito mais dolorosa e difícil a superação. Superar uma rejeição amorosa seria equivalente a vencer um vício, isto porque a presença da pessoa amada ativa mecanismos cerebrais de recompensa e sua falta, portanto, pode trazer sinais de abstinência, como irritabilidade e depressão.

Para enfrentar o medo de rejeição, uma vez que relacionar-se significa arriscar-se, permitindo-se acertar ou errar, uma boa forma de lidar com a possibilidade da frustração seria diminuir a expectativa que se cria em relação ao outro, entendendo que decepcionar-se faz parte da vida, o que é necessário como aprendizado para experiências futuras. Idealizar é importante, pois nos movimenta em busca de nossos objetivos, no entanto é necessário que se aceite o que é possível. Em qualquer relacionamento, a atuação de um dos parceiros é limitada, o sucesso da relação depende também da ação da outra parte.

É importante lembrar que o fortalecimento da autoestima nos oportuniza melhores relações e, portanto, uma vida com mais qualidade. Entender que é possível cuidar do outro sem que as próprias necessidades sejam olhadas, é escolher fazer a manutenção de uma situação disfuncional, que só traz sofrimento. Proporcionar-se ajuda profissional adequada, nos momentos em que a mudança necessária está sendo difícil de ser realizada, faz parte do processo de fortalecimento individual e, portanto, do aprendizado de novas formas de se colocar no mundo, por mais difícil que tenha sido a história da formação de cada um.

Tatiana Berta

Psicóloga e Psicoterapeuta Comportamental e Cognitiva

CRP Principal (06/93349)

São Paulo/SP

 

* O artigo expressa opiniões da autora e não substitui a terapia realizada em consultório.