Parar: eis uma grande dificuldade, num mundo que requer velocidade de pensamento e tomada de decisão, no qual é perceptível o imediatismo e a falta de tolerância, manifestados até mesmo na dificuldade que desenvolvemos em ficarmos sós. A aceleração constante de pensamentos e atitudes junto à necessidade de recebimento da atenção do outro com relação às nossas próprias necessidades, ocorre num padrão de alerta contínuo. Este fluxo, quase sempre agitado e em consonância com a velocidade em que respostas individuais são exigidas, vem se intensificando, a partir do surgimento da internet, smatphones e outros gadgets, cada vez mais presentes no cotidiano de cada um.
A quantidade de estímulos a que somos expostos é imensa e difícil de mensurar. Aparatos eletrônicos são cada vez mais comuns desde muito cedo e, embora possam maravilhar muitos pais, que se orgulham da “precocidade” de seus pequenos, podem influenciar, nem sempre positivamente, no treino da atenção concentrada. Quando a ideia de que “tempo é dinheiro” passa a ser um valor comum, pode parecer muito interessante a nossa capacidade de realização de muitas tarefas paralelas. Porém, para alguns estudiosos, a quantidade de estímulos pode trazer também alguns problemas. O “modo automático” para realização das atividades pode contribuir, por exemplo, para a dificuldade de se fazer introspecções, enfrentamentos e reflexões sobre si próprio (Setzer, 2014). Interferências sonoras ou visuais podem dificultar a organização dos pensamentos e atitudes, fazendo com que muitas vezes tenhamos dificuldades até mesmo para descrever o que acabamos de ouvir, ver ou fazer.
Muitas são as variáveis, quando o simples ato de focar a atenção em um único ponto é requerido. Condições ambientais e orgânicas atuam juntas, quando cada resposta do organismo, como o direcionamento da atenção, é solicitado. Um ambiente no qual a presença dos programas de televisão é constante, por exemplo, pode não favorecer o aprendizado do desenvolvimento de atenção com foco.
Prioridades devem ser estabelecidas, a fim de favorecer o autocontrole, o foco e a coerência com nossas metas, no momento da tomada de decisão. Foco inspira segurança e pessoas seguras frequentemente acabam servindo como referências para as demais. O autogerenciamento ocorre quando torna-se possível, um retorno do “modo automático”, com gentileza e atenção, para o “aqui e agora”, campo fértil para a ação Nossa forma de pensar e nos colocarmos no mundo não é algo predeterminado, podendo ser construído, a partir de nossas interações com o meio e da incrível capacidade plástica de nossa poderosa máquina cerebral, com a finalidade de adaptação. Diversas ferramentas como exercícios de atenção plena (Mindfulness) e outras técnicas da terapia cognitivo-comportamental podem auxiliar neste aprendizado. De qualquer forma, torna-se necessário que cada um, a seu modo, busque possibilidades que vão ao encontro de suas possibilidades, até mesmo com exercícios informais, que possibilitem a tomada de decisão de concentrar a atenção no momento presente, como subir uma escada ou caminhar atentamente, dentre outros. A ideia de sermos “monotarefa”, embora possa parecer ir na contramão da enxurrada de demandas do cotidiano pode ser um grande diferencial, favorecedor de qualidade de vida e inspiração.
Referências:
SETZER VW. Efeitos negativos dos meios eletrônicos em crianças, adolescentes e adultos. Depto. de Ciência da Computação, Instituto de Matemática e Estatística da USP, 2014.
Tatiana Berta Otero (CRP 06/93349)
*Psicóloga Clínica, Especialista em Terapia Comportamental Cognitiva, Mestra em Ciencias (Saúde Coletiva).