Como saber se estou no “piloto automático”?

No modo conhecido como “piloto automático”, a pessoa vive como se fosse guiada por referências prontas e, a partir de categorias previamente estabelecidas, olha o mundo através de uma única lente. Dentro de um contexto social competitivo, no modo automático podemos agir rapidamente e nos projetarmos como eficientes e produtivos. Porém, em alguns casos, ficamos tão misturados com nossos pensamentos e sentimentos sobre passado ou futuro, que perdemos contato com o que está acontecendo no momento atual, muitas vezes chegando num estágio bem próximo ao de esgotamento.

Etimologicamente, a palavra “ansiedade” deriva do grego e significa “estrangular, sufocar, oprimir”. Níveis moderados de ansiedade são considerados fundamentais no processo de desenvolvimento, na medida em que fornecem possibilidades de defesa com finalidade de adaptação à situações novas ou perigosas, porém quando o medo ultrapassa o limite das reações adaptativas, podem surgir manifestações de sofrimento em diferentes quadros, como ataques de pânico, fobia social ou estresse pós-traumático, transtornos que alteram o funcionamento comportamental frente às situações do cotidiano.

Muitas pessoas podem falhar na percepção de sinais sociais porque seus sentimentos e intenções não são claros para elas. Os transtornos de ansiedade, por exemplo, causam grande sofrimento individual e representam um alto custo médico-social e são altamente prevalentes na procura pelos serviços de saúde.

Infelizmente, ao se falar em transtorno mental, predominam falta informação e pouca empatia. Pedir ajuda ou reconhecer o próprio sofrimento são atitudes que  ficam dificultadas, acompanhadas por medo de desaprovação social. A procura por auxílio pode dar-se em estágios avançados dos quadros, quando os sintomas levam o paciente, muitas vezes com pouca informação, à catastrofização, tipo de distorção, que geralmente acompanha a sensação de agravamento dos quadros e a busca por atendimento médico-emergencial.

O autoconhecimento implica, dentre outras possibilidades, no desenvolvimento de autorregulação, capacidade de direcionar a atenção, intencionalmente, às experiências do momento presente. Esta e outras ferramentas utilizadas em psicoterapia, especialmente nas Terapias Comportamentais de Terceira Geração (baseadas em Mindfulness e Aceitação), procuram trabalhar autoconfiança e autonomia para que se aprenda a lidar com os sintomas. A intervenção precoce é fundamental no bloqueio e controle de sintomas, bem como na melhoria dos resultados. Quanto mais depressa for instituída uma sequência de tratamento, melhor será o prognóstico.

 

Tatiana Berta Otero (CRP 06/93349)

*Psicóloga com especialização em Terapia Comportamental e Cognitiva (USP), Mestre em Saúde Coletiva (Ciências) pela UNIFESP (Escola Paulista de Medicina)